terça-feira, 5 de agosto de 2008

Parede




Felizarda, nasci num dos pontos mais lindos do litoral do Brasil – e do mundo, segundo alguns amigos estrangeiros -, São Sebastião, costa norte de São Paulo. Por isso cresci cercada pela muralha. De qualquer ponto da cidade eu podia avistá-la. De um lado, se ergue no rumo oeste. De outro, ao longe, na serra de Caraguatatuba. Ao sul, nos caminhos para praias como Maresias, Camburi e Boiçucanga. E a leste está a enorme parede verde de Ilhabela.
A massa inebriante da Mata Atlântica é colírio puro. E o que encanta é se estar na beirada da praia, perto de um mar muito límpido e olhar para trás e ver tamanha diversidade vegetal. Com essa infância privilegiada, não foi difícil me identificar com Blumenau e suas densas florestas urbanas. Tive ainda o privilégio de me instalar no alto de um morro, na última casa da rua, quase no meio da mata, vendo só verde aqui por detrás do meu computador.
Do litoral catarinense eu só conhecia Florianópolis e algumas outras cidades ao sul, como Guarda do Embaú e Imbituba, até Laguna. Mas essa parte mais ao norte da costa, próxima a Blumenau, que fui conhecer após minha mudança, tem uma vegetação muito mais densa do que lá no sul, e em alguns pontos muito semelhante à da minha região natal. A muralha também está aqui, e eu a vejo da minha varanda, numa visão reconfortante porque evoca os cenários da minha infância.
Da primeira vez que peguei a estrada e segui rumo às praias, tudo estava muito bem. Mas, após uma curva, o que se descortinou na minha frente foi um choque tão absurdo, que a sensação que eu tive foi a de ter entrado num filme de ficção científica, naquelas cenas em que o personagem é abduzido e levado para outro planeta.
A visão de Balneário Camboriú é uma cacetada. Você sabe que logo ali está a praia, mas se ergue à sua frente uma massa brutal de edifícios que simplesmente não combina com o que você tinha visto até então. Pode até ser que eu seja sensível demais, mas foi um choque tão tremendo que, além de eu custar a me recuperar, até hoje não tive coragem de pegar o trevo de acesso à cidade e me arriscar a ir a uma praia dali. Apesar de todo mundo falar que “Balneário é tudo”, eu continuo preferindo a muralha verde à de concreto.
*Esta maravilhosa imagem de São Sebastião é do meu amigo-irmão J. Valpereiro, um artista-fotógrafo.